
A pandemia por conta do novo coronavírus Covid-19 gerou uma crise mundial, e as consequências da quarentena e lockdown, impostas pelos governantes, afeta toda cadeia econômica. Algumas categorias ainda sofrem, dentre elas os músicos e produtores culturais. Nesse período a criatividade torna-se um grande aliado para a categoria se reinventar e sobreviver diante do contratempo.
Pensando nas necessidades da classe artística, a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Distrito Federal (ABRAÇO-DF), com o apoio do Governo Federal e Ministério do Turismo, criou o concurso musical “Primeiro, a Poesia!”. De acordo com Renato Moutinho, um dos idealizadores do projeto, a ideia é resgatar os famosos festivais que aconteciam na Capital Federal.
Para Renato, o objetivo do concurso é servir de canal que promova compositores, poetas e intérpretes da Música Popular Brasileira (MPB). A proposta é que o júri, composto por técnicos e populares, escolham as canções analisando apenas as letras sem conhecer as melodias das canções, e dessa forma promover a poesia e a arte de compor. Os selecionados terão as músicas produzidas e gravadas em um estúdio profissional. A votação será online.
“Músicos e compositores, amadores e profissionais, além de entusiastas por composição são encorajados a participar dessa seleção. Além disso, os participantes divulgarão seus trabalhos em todas as rádios comunitárias filiadas a Abraço-DF”, explica Renato. As inscrições estão abertas até o dia 11 de março e o regulamento do concurso está no site www.primeiroapoesia.com.br.
No caminho certo

E como o lema é se reinventar, a classe artística busca meios de sobreviver em meio à crise. Todas as atividades foram afetadas e com a arte não seria diferente. Para os músicos que dependem do funcionamento de bares e restaurantes, os decretos estaduais/municipais impossibilitam a geração de renda, principalmente nas cidades em lockdown.
Com tantas restrições, os profissionais ligados a cultura ficam vulneráveis, por não poderem trabalhar e sustentar as suas famílias. Foi o que aconteceu com o saxofonista profissional, Mario Neto. Antes de receber convites para tocar, ele financiou um carro para trabalhar como motorista de aplicativo. Mas no início de 2020 os motoristas pararam de circular por tempo indeterminado devido a quarentena, o que gerou dificuldades financeiras.
“No início da pandemia a minha vida financeira já estava arrasada, totalmente destruída. Sem uma formação acadêmica eu não sabia mais o que fazer. E foi justamente durante a pandemia que Deus abençoou a minha casa e consegui colocar minha vida em ordem”, relata Mário que aprendeu a tocar na igreja.
As mudanças vieram após um convite que recebeu para participar do projeto “Música no Ar”, uma ramificação do projeto educativo “Picolé para Todos”, que incentiva a cultura da honestidade em condomínios, empresas e escolas. ‘Ouça uma boa música da sacada de sua casa’ é o convite aos moradores dos condomínios que de suas janelas tem a oportunidade de usufruir o melhor do entretenimento por meio de uma série de apresentações gratuitas. Vale destacar que os moradores, voluntariamente, contribuem em apoio aos músicos.
A iniciativa proporciona uma experiência profissional aos artistas que estão iniciando no cenário musical, além do suporte financeiro. “Foi uma providência divina para abençoar a minha casa. Comecei a tocar e as pessoas gostavam e começaram a contribuir. A partir deste projeto as portas foram se abrindo e recebi convites para tocar em restaurantes, além de serenatas, aniversários e casamentos. A oportunidade me ajudou a organizar minhas finanças”, comemora Mário.
Grandes produções

Com 37 anos de carreira, o guitarrista, produtor musical e compositor de trilhas sonoras, Marcos Kleine, resume todo o seu sucesso a sua persistência diante das dificuldades, algo necessário nesse período de pandemia. Aos 18 anos já era professor de música, e foi entregando pizza que conseguiu comprar a primeira guitarra. Para ele ser criativo não é o suficiente, pois o músico precisa ser visto e trabalhar em várias frentes, como: dar aulas, vender workshop, e fazer música, ao invés de focar apenas em lives, algo que muitos têm apostado no momento.
“É melhor fazer música e lançar, tem que ser insistente. É movimento. Você tem que fazer girar o mundo, o seu mundo, senão não acontece. É preciso encarar vários frontes, não pode ser acomodado e se achar uma pérola que não foi descoberta. Você pode ser o maior guitarrista do mundo, o melhor baterista e seu vídeo ter um bilhão de views. Quanto você ganhou com isso? Quantos te aplaudiram? É a pergunta que você tem que se fazer”, aconselha Kleine.
O músico acredita que like é ilusório, pois o artista precisa ser orgânico, lidar com o público, saber tocar em cima do palco, que é completamente diferente de tocar enquanto cria um vídeo para lançar no YouTube. Como exemplo ele cita o guitarrista que o inspirou a querer tocar guitarra, Randy Rhoads e o solo na música Mr. Crowley, de Ozzy Osbourne. Para ele, se fosse nos dias atuais e Rhoads focasse em vídeos para o YouTube certamente não teríamos o solo.
Segundo Kleine, existem músicos sensacionais no Brasil, mas faltam bandas, principalmente de rock'n'roll. “Eu venho de uma época que você quer ter banda. Eu sou um cara de banda. Eu aprendi a fazer vídeo depois, vídeo é um complemento na minha vida, pois eu gosto do palco. Comecei a dar aulas de guitarra com 18 anos. Tive várias bandas antes de tocar com Léo Jayme. Toco com o Ultraje a Rigor e estamos no The Noite. Trabalho com a banda PAD, sou sócio na empresa Piguitars, e continuo produzindo. Eu simplesmente faço”, resume o músico que tocou no Rock in Rio e abriu, com o Ultraje a Rigor, o show dos Rolling Stones no Maracanã.
De acordo com Kleine, há um ano ele não faz shows, mas não deixou de produzir, e um dos projetos é o clipe da banda PAD, com lançamento previsto para o dia 19 de março no programa The Noite do SBT. A música “Um Sopro” é um relato sobre relacionamentos abusivos em geral, mas o tema é abordado de forma elegante. “Estamos tentando produzir coisas positivas. Nós somos por natureza pessoas otimistas então a gente tenta passar isso para as pessoas, é o momento pra isso (...) E encontrando pessoas que são criativas, você tem que botar a criatividade e não o seu medo na mesa”, finaliza.
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