
De acordo com dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), antes da pandemia o Brasil já apresentava alta incidência de depressão, impactando em torno de 12 milhões de pessoas.
Durante a pandemia esse número teve um aumento significativo, é o que mostra um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). As restrições e isolamento social é responsável pelo aumento de 90% nos casos de depressão. Já o número de pessoas com sintomas de estresse e crises de ansiedade, praticamente dobrou entre os meses de março e abril de 2020.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), reforça as informações anteriores e aponta que, na América Latina, o país lidera em casos de depressão, e alerta que o sofrimento drástico nesse período está relacionado, em especial, pela privação das atividades por conta da quarentena e lockdown. De acordo com especialistas, dados divulgados em novembro de 2020 apontam que 16,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos sofrem da doença, e a maior incidência acontece com as mulheres e idosos.
Em março de 2020 o presidente Jair Bolsonaro, por se preocupar com o bem-estar psíquico da população, alertou que, por conta do isolamento social e a interrupção das atividades comerciais, haveria um aumento nos casos de depressão e mortes provocadas por questões psiquiátricas. Na ocasião a extrema imprensa o atacou, mas os números atuais só comprovam a tese do presidente.
O cenário de insegurança, instabilidade econômica, angústia e solidão podem prejudicar a saúde mental. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 aponta que, os pensamentos suicidas são classificados como um dos sintomas mais graves da depressão. Estima-se que 15% das pessoas deprimidas, que não realizam tratamento, dão fim à própria vida. Mas existem casos que mesmo com apoio familiar e ajuda profissional a pessoa acredita não valer a pena estar vivo.
Foi o que aconteceu com Mikhael, 15 anos, filho único de Daniel Mastral, escritor, conferencista, youtuber e líder espiritual. Ele conta que lutou, ao lado da esposa Isabela Mastral, pela cura do filho que adoeceu em maio de 2018. O adolescente recebeu tratamento e amparo familiar, mas não resistiu vindo a falecer, de forma drástica, em dezembro do mesmo ano.

“De repente, sem aviso, meu filho entrou em depressão. Uma doença devastadora que corrói a alma por dentro. Por ser uma enfermidade invisível muitos acham “frescura”. Porém, é um câncer na alma. O último estágio da dor humana”.
Daniel e a esposa iniciaram tratamento de depressão pós-traumática. Mas Isabela, médica e escritora, faleceu dia 30 de maio de 2021, por parada cardiorrespiratória, por infarto agudo do miocárdio. De acordo com Daniel, a esposa piorou após o falecimento do filho.
“Tratou por anos, até que entrou em remissão dos sintomas. Mas, quando nosso príncipe adoeceu em 02 de maio de 2018, a sombra da depressão tornou a assombrá-la. Lutamos com todas nossas forças (…) Ela estava bem e feliz, porém, teve um rebaixamento, comum em quadros depressivos”, lamenta Daniel.
Busque alternativas
Ao notar os sintomas da depressão é importante contar com o acompanhamento de um psicólogo. Em casos mais avançados, um psiquiatra passa a trabalhar em conjunto, e caso necessário indicar os medicamentos devidos. Depressão é doença e a pessoa merece empatia e compreensão, e quem está ao lado deve evitar críticas e acusações. Merece destaque a frase do psiquiatra Carl Jung: Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.
A psicóloga, Alyne Dini, utiliza a equoterapia em seu trabalho com crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois o cavalo, como agente terapêutico, traz inúmeros ganhos aos pacientes. A especialista acredita que os animais de estimação podem ajudar no tratamento em casos de depressão e ansiedade.
Ela acrescenta que a pandemia potencializou os casos de ansiedade e depressão, e se a pessoa já apresenta alguma predisposição, chamados de gatilhos pelos especialistas, torna-se mais sucessível aos efeitos do isolamento, causando prejuízos a saúde mental. “Pessoas perderam emprego, perderam entes queridos, e desenvolveram, inclusive, fobia social, por ficar muito tempo sem contato com ninguém”.

Seja para tirar das ruas ou preencher um vazio, os animais de estimação têm um papel importante na vida de muitas pessoas. E essa relação de amor entre os bichos e os tutores têm transformado vidas. Existem relatos de pessoas que a vida tomou outros rumos após conviver com um bichinho. Foi o que aconteceu com a autônoma, Ceiça Parente Dantas.
Ceiça realiza um trabalho voluntário com animais abandonados e vítimas de maus-tratos. Ela conta com apoio de amigos e seguidores em seu perfil nas redes sociais, mas as contribuições diminuíram nesse período de quarentena. O que causa preocupação, pois os resgatados necessitam de ração, vacinas, vermífugos e exames. E todo esse cuidado com os animais vem acompanhado de um triste passado de abandono e dor. “Minha mãe sempre me rejeitou, e ao perder o meu pai, aos 14 anos, eu fui expulsa de casa, apenas com a roupa do corpo”, relembra.

Com quadro de depressão severa, após tentar contra a própria vida por oito vezes, Ceiça ganhou de uma sobrinha a Ruby Ester, uma poodle que veio para alegrar e transformar a vida de sua tutora, que luta contra o câncer de mama. A doença é tratada com acompanhamento psiquiátrico, medicamentos e fé, pois reconhece que estar viva é um milagre. Ter tantos animais que necessitam de seus cuidados é a motivação que ela tem diariamente para lutar contra os sintomas de depressão.
“O câncer veio não como um castigo, e sim como um aprendizado. Veio para me ensinar a valorizar a vida. Hoje tenho duzentos animais que dependem totalmente de mim. Não fui eu que os resgatei, mas foram eles que me resgataram”, relata a protetora, que nunca abandonou seus animais, nem mesmo quando ao voltar para casa avistou o serial killer do DF, Lázaro Barbosa de Sousa, que assassinou toda família da vizinha e amiga Cleonice Marques.
Ela relata que muitos moradores deixaram suas casas e pediram que ela fizesse o mesmo. “Eu passei do lado dele numa sexta-feira, e a polícia só apareceu aqui na terça. Entrei no carro deles e mostrei o local exato onde ele estava. Mas acho que a polícia só veio aqui, depois de todos esses dias, porque eram muitas ligações que eles recebiam”, comenta Ceiça. Para a polícia, o elevado número de trotes dificultou o trabalho.
Pós-traumático
A depressão torna mais difícil para a pessoa superar eventos traumáticos ou momentos de estresse, além de prejudicar a qualidade de vida. O Transtorno de estresse pós-traumático (TSPT), é um tipo de transtorno de ansiedade que pode desenvolver em pessoas que vivenciaram um evento traumático. Essa condição desencadeia sofrimento intenso e prejuízos a vários aspectos da vida.
De acordo com Elza Paula Meira, que em 2015 iniciou tratamento por conta da crise de pânico e ansiedade, a maioria das pessoas acham que depressão é frescura e simples de lidar, e ao tentar ajudar acabam atrapalhando. Ela explica que estava bem, mas uma tragédia causou crise de ansiedade e estresse agudo pós-traumático.

Em agosto de 2020, durante uma caminhada com o esposo Diego, um cão da raça American Staffordshire atacou e matou o bichinho de estimação do casal, Sleeper. Enquanto gritavam por socorro, a tutora do animal não ajudou a evitar o ataque, e nunca se desculpou com a família.
“Foi extremamente traumatizante passar por isso, ver o olhar do meu bebezinho pedindo socorro e não poder fazer nada. Só quem tem um animal de estimação e o ama como parte da família entenderá nossa dor” afirma Elza que recebe apoio psicológico e chegou a usar medicamentos, como o Rivotril, para amenizar as crises de pânico.
Streamers
Alguns hábitos podem ser criados para garantir o bem-estar psíquico, social e espiritual, e dessa forma combater os transtornos psicológicos causados pelo isolamento social, como: permanecer conectado com amigos e familiares; buscar atividades criativas; prosseguir com atividade física; manter uma liturgia, mesmo que virtualmente e assim conseguir lidar com as situações evitando que o pânico tome conta.
O assunto é bem complexo, e a saúde mental é a quarta maior preocupação e prioridade da Organização Mundial da Saúde (OMS), que orienta os governantes a manterem uma rede de assistência psicológica a toda a população. Para auxiliar os profissionais da saúde, os agentes comunitários, e a população em geral, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) preparou uma cartilha com recomendações que auxilie no reconhecimento de alguma manifestação psicopatológica, tais como: depressão, ansiedade, síndrome do pânico, e transtorno de estresse pós-traumático.
De acordo com especialistas a sugestão é procurar o que faz bem, e mesmo não tendo a intenção, Streamers (criadores de conteúdo que transmitem seu conteúdo ao vivo na internet), tem ajudado a muitos seguidores nesse momento delicado no mundo. O serviço de streaming, criado na década de 90, se popularizou nos tempos atuais, e dentre os jogadores de destaque está Neymar Junior, Gaules, Netenho e Leonardo “BRlk” Kuhn.
Os influenciadores fazem sucesso em plataformas como: Mixer, Twitch TV, YouTube e Facebook, de jogos como Counter-Strike, Fortnite e League of Legends (LoL).Com transmissões ao vivo de determinado game, as "streams", o jogador interage com o público em tempo real por meio de um chat. E os seguidores conversam com os jogadores, momento em que acontecem os agradecimentos, pois por meio das lives muitos venceram a depressão e o uso abusivo de drogas. Mas um depoimento impactou até quem não é seguidor.
Foi o que compartilhou o streamer brasileiro, Leonardo “BRlk” Kuhn, que começou a fazer lives durante um período de depressão para salvar a vida de seu irmão. Ele conta que na noite do dia 15 de julho de 2020 algo inusitado aconteceu, uma doação anônima no valor de R$ 900 mil reais, de um seguidor que vive na Europa.
Visivelmente emocionado, “BRlk” leu a mensagem para o público: Boa noite mano, sou eu que faço o donate anônimo. Vou continuar anônimo porque eu não quero nada em troca. Você mudou a minha vida. Graças as suas lives eu não me suicidei, minha depressão foi curada.
Busque ajuda
A depressão tem cura. Aos primeiros sinais procure ajuda profissional. Caso não tenha condições de pagar pelo tratamento, conte com o Sistema Único de Saúde (SUS), ou verifique em sua cidade faculdades que ofereçam o serviço gratuito.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Fonte: PNS, IBGE, UEFJ, USP, OMS, Fiocruz, Pfizer e CVV
Imagens: Pixabay - Skitterphoto, Daniel Mastral, Artista Noelle Porto e arquivo pessoal
Colabore com o Abrigo da Ceiça: https://www.facebook.com/ceicaparente.dantas
Pix:18575412191
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