
Suéllen Cláudia Padilha, conhecida nas redes sociais como “a mãe do Davi”, entende que muitas mulheres sonham em ser mãe e constituir uma família. Um filho muda totalmente a vida, não apenas da mãe, mas de todos ao seu redor. São meses repletos de planos, sonhos, e o desejo de finalmente ter em seus braços o tão esperado bebê.
Faz parte do processo a preocupação em aprender sobre a maternidade e os cuidados básicos; ouvir o chorinho e as primeiras palavrinhas, acompanhar os primeiros passos, são fases que devem ser vividas com intensidade e amor. Mas, alguns bebês têm problemas que se desenvolvem ou são descobertos antes mesmo do nascimento.
Durante a gravidez, Suéllen soube que Davi nasceria com uma Cardiopatia Congênita. Com apenas dois dias de vida, Davi passou pela primeira cirurgia no coração, foram quatro ao todo. Para Suéllen, ninguém ensina a ser mãe, isso é instinto, mas ser mãe ‘atípica’, essa sim, precisa aprender para não causar danos ao processo.
Apesar dos desafios, é possível reaprender a viver, aprender a maternidade diferente, a chegar em casa e não o filho correndo ao encontro; dar valor ao pouquinho, ao mínimo, pois as vezes é tudo o que se tem; reescrever sonhos, planos e não desistir.
E foi ao lado do filho, dentro da UTI, que Suéllen começou a escrever ‘Uma vida de Milagres’, com relatos de suas experiências e aventuras, e assim ajudar outras famílias que convivem com a cardiopatia congênita, a perseverar e entender cada processo.
Quais os desafios das mães de UTI?
Suéllen: Acredito que seja lidar com a própria cobrança de querer dar conta de tudo. A gente se cobra para aprender mais sobre o diagnóstico, tratamentos e várias especialidades que atendam ao filho, e assim ter noção de como agir. Eu demorei para aprender a lidar com a situação. Eu só tinha o Davi como filho, e não tinha um companheiro, então, de certa forma, era mais tranquilo, pois a única responsabilidade e preocupação que eu tinha era com ele. Minha família sempre me deu muito apoio, mas, ainda assim, eu me cobrava muito, ficava dias na UTI, sem ir para casa.
Como é viver dentro do hospital por meses e até anos?
Suéllen: Eu sempre dizia que a realidade de ter um filho internado, seja qual for o tempo, é como se tivéssemos duas vidas. Uma dentro do hospital e outra fora. Diferente de mim existem mães que têm outros filhos, marido, casa, trabalham fora, e tentam dar conta de tudo; e muita vezes isso frustra o coração. E nossa maior dificuldade é entender que a gente não precisa dar conta de tudo. Digo mães, pois são elas que, na grande maioria, ficam internadas na maior parte do tempo, mesmo que reveze com o marido ou familiares. Algo em comum entre todas é a fé para vencer o diagnóstico de cada dia, mesmo com as notícias ruins.
Você acredita ter uma missão?
Suéllen: Eu sempre acreditei que todos nós nascemos com uma missão. Porém, até eu ter Davi na minha vida eu ainda não conseguia ter uma visão de qual seria a minha. Me via perdida quando alguém perguntava “como você se vê daqui a 5 anos?”. Eu não conseguia dizer. Depois da maternidade atípica, eu me descobri como mãe, e depois como mulher. Foi um processo até que rápido, e pude ver o quanto cresci. Algumas dores, as quais passei, ainda me são como mistério para saber onde isso se encaixa na minha missão; mas sei que fazem parte do processo para o meu crescimento. Contudo, hoje eu sei que devo compartilhar minha experiência como mãe atípica, enlutada, que ressignificar é possível. E que minhas dores não definem quem eu sou, mas através delas eu posso ajudar e compartilhar com aquelas que passaram, ou passam pelo mesmo processo que eu.
Quando começou a escrever ‘Uma vida de Milagres’?
Suéllen: Eu sempre tive o desejo de escrever um livro, a minha adolescência foi marcada por muitos diários, agendas e eu amava cada etapa. Com o tempo esse sonho ficou esquecido, e a maternidade me despertou. Em 2018, ainda internada com Davi, sem previsão de alta, decidi que escreveria sobre nossa história com a Cardiopatia, já que não têm muitos livros que contem a experiências de mães como eu. Comecei a escrever em um bloco de notas do celular, quando eu perdia o sono na UTI, ia madrugada adentro escrevendo. No livro conto como foi esse processo.
Quem e a Suéllen hoje?
Suéllen: A Suéllen de hoje é uma mulher que aprendeu com as dores, e que ficar chorando não resolve sua vida. Que ter atitude, não ter medo de expor sua opinião, e ter uma rede de apoio para dividir o peso da caminhada é o melhor caminho para realizar seus sonhos. Eu sempre fui muito orgulhosa em querer dar conta de tudo. Mas, a partir do momento que comecei a contar com quem queria me ajudar, eu consegui ir mais longe. Tanto que esse livro é uma prova disso. Eu sonhei, compartilhei e com ajuda de várias pessoas estou aqui com o lançamento. Hoje eu consigo olhar para o meu próximo com mais amor, e consigo calar minha opinião e apenas dar um abraço apertado, pois na maioria das vezes é só isso que alguém precisa, de empatia.

Livro: Uma vida de Milagres
Lançamento: 13 de outubro de 2021
Hora: 20h (horário de Brasília)
Onde: Instagram: @suellenc.escritora
Parabéns mais uma vez! Emocionante essa matéria que traz lembranças de quando nasceu minha filha Isabela e aos 40 dias de vida contraiu meningite bacteriana .
Foram 17 dias em coma induzido e mais 24 dias de UTI.
Graças a Deus não ficou nenhuma sequela e hoje é uma menina linda e minha melhor amiga.