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Lidando com racismo e preconceito

Foto do escritor: Márcia CasaliMárcia Casali

Atualizado: 28 de set. de 2021


Quem nunca foi vítima de racismo ou preconceito?

Quem nunca sofreu bullying quando criança?

Ao presenciar qualquer tipo de comportamento discriminatório qual foi o seu sentimento?

Falar de racismo, injúria racial e preconceito não é uma tarefa fácil, erevela o pior do sentimento humano. Tais atitudes deixam claro que o ofensor se alegra em golpear a dignidade de seu próximo, causando vergonha, tristeza e em muitos casos faz com que a vítima paralise suas atividades por não conseguir lidar com a situação.


Importante entender que os conceitos jurídicos são diferentes para injúria racial e racismo. A injúria racial está prevista no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal brasileiro, que consiste em ofender a dignidade ou o decoro. Já o racismo é crime, previsto na Lei nº 7.716/1989 que implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade.


De acordo com o advogado, Carlos Eduardo Dias, é fato que exista racismo e preconceito no país. Mas há um problema na polarização da coisa. Um lado vê racismo em absolutamente tudo, outro lado não vê e até diz que não existe. “Fui ensinado no seio familiar que existe o racismo e preconceito, contudo o fator determinante é como lidar com isso. A minha receita é ter uma boa estrutura emocional e familiar, de forma a contornar certas situações”, afirma.


Ele conta que já passou por algumas situações desagradáveis, e chegou a judicializar uma acusação. Carlos foi com a família a uma loja de departamentos para realizar a troca de um produto, no caixa fora abordado por um segurança que o acusou de furto. Na tentativa de alertar o equívoco, ele solicitou que o segurança verificasse as imagens do circuito interno, e o mesmo informou que chamaria a polícia. Ao identificar-se como advogado, Carlos afirmou que quem chamaria a polícia seria ele.

A jovem de 19 anos, Maria José dos Santos Vargem, saiu do Maranhão em busca de uma vida melhor em Brasília-DF. Há oito meses na cidade conseguiu emprego em um supermercado como auxiliar de serviços gerais, e sempre que solicitada faz atendimento no caixa. Comunicativa, ela afirma ter autoestima, mas que um fato a deixou bastante triste.

“Eu estava conversando com uma colega de trabalho quando um senhor chegou no meu caixa. Perguntei se ele queria CPF na nota, por estar de máscara eu não entendi a resposta e perguntei novamente. Ele respondeu que já havia falado e que eu estava surda por conta do meu cabelo”, esclarece.


Sem querer demonstrar que estava triste, pois muitos observavam o ocorrido, Maria falou que seu cabelo era tão bonito quanto ela, e que aquele comentário pode render pena de prisão. Mas o homem não parava de repetir os insultos e chegou a dizer que ela deveria alisar o cabelo, pois ficaria mais bonito e ela ouviria melhor.


Maria ficou desapontada em ouvir aquela retórica torpe de uma pessoa de idade, pelo simples fato de ser negra. Em uma outra ocasião, ao orientar uma colega do caixa que estava em dúvida sobre um determinado produto, a cliente reclamou que “pessoas da limpeza não devem dar pitaco em outros lugares”.


No século 21 ainda nos deparamos com relatos de rancor injustificado. Foi o que aconteceu com o militar aposentado, André* (nome fictício), que escapou da morte por estar carregando no ombro a filha de sua esposa. A motivação? O tio da criança não queria um “preto na família”.


No Distrito Federal uma mulher foi detida após xingar e agredir um idoso e seu filho que trabalhavam na reforma externa de um shopping. Ao passar por eles a mulher empurrou o idoso e gritou “essa negrada do inferno, vai tudo pro inferno”. Também, no DF, um professor foi demitido de uma escola de inglês, pois a diretora desconfiou de sua opção sexual. O rapaz ficou abalado, mas usou a atitude preconceituosa que sofreu para estudar e passar em um concurso público.


Sucesso nas redes


Edivani Brito criou o canal ‘Casinha da Edy’ para ensinar artesanato com recicláveis. Curiosa, ela conta que passou uma noite assistindo vídeos para aprender a editar e publicar as aulas. O canal começou a crescer em números de inscritos, e atingiu as quatro mil horas necessárias para solicitar o Google AdSense, e assim monetizar a plataforma.


Edy, como é carinhosamente conhecida, começou a trabalhar com a irmã aos 8 anos de idade vendendo verduras na rua, de uma horta que o pai cultivava no quintal. Mas na adolescência elas começaram a ter vergonha, pois na escola os colegas faziam piadas e as apelidaram de ‘cheiro verde’. Toda dificuldade serviu de trampolim para que aos 29 anos, a mãe da pequena Sofia colhesse os frutos de seu trabalho.

Ela comprou um lote em Planaltina de Goiás, localizado a 59,8 km de Brasília, onde construiu um imóvel de um cômodo, o que gerou o nome de seu canal. No dia 6 de maio, Edy resolveu gravar um tour pela casa que define, com orgulho, como aconchegante e chique, mesmo tendo muito o que concluir – falta o piso, acabamentos nas paredes e teto.


Após divulgação do vídeo, que está com quase 400 mil visualizações, Edy foi vítima da falta de empatia e respeito dos linchadores virtuais, que se sentem protegidos pelo anonimato. Uma mulher, provavelmente incomodada com o sucesso do canal, deixou uma mensagem no perfil pessoal de Edy, que abalada, gravou um vídeo relatando o ocorrido e parou de gravar por um tempo.


Na mensagem, a mulher ironizou o canal classificando-o como “canalzinho”, e de forma rude disse que seus “olhos chegam até sangrar” diante dos móveis e simplicidade da casa. Por fim, usou Sofia na tentativa de diminuir Edy como mãe. Inconformados com o ocorrido, seguidores deixaram mensagens de apoio no canal, hoje com quase70 mil inscritos.


Vale destacar que Internet não é uma "terra sem leis", apesar de ser um território muito utilizado para ataques. Edy preferiu apagar a mensagem e bloquear a agressora. Vale destacar que o ato, que causa danos emocionais e sociais, é crime e a vítima pode registrar um Boletim de Ocorrência (BO), ou ajuizar uma ação no Juizado de Pequenas Causas (JEC).

Patrulha do peso


“Olha, sobre preconceito é o que eu mais posso falar. Toda minha vida sofri por ser gorda, e também por ser uma pessoa gorda vendendo doces, balas e etc. Enfim bullying nunca faltou na minha vida, e é um dos motivos de hoje eu não ter autoestima. A sociedade é e foi tão tóxica comigo que eu, de certa forma, não consigo me aceitar, e nem aceitar o meu corpo”.


O depoimento é da autônoma e pianista, Rebecca Nabarrete, 24 anos. Por não conseguir emprego, a jovem passou a vender doces na porta da igreja Congregação Cristã, onde a mãe também trabalhava com venda de véus. Os negócios deram certo e foi possível comprar um carrinho de pipocas. Por conta da pandemia as igrejas passaram meses fechadas, e a solução encontrada foi vender os doces nos sinais, pois precisava ajudar nas despesas de casa.

Rebecca admite sofrer uma espécie de patrulha, com comentários maldosos até entre os familiares. Tais comentários, repletos de “boas intenções”, conseguem apenas abalar o seu psicológico. AGordofobia é preconceito, e diz mais sobre quem fala, do que quem sofre com comentáriosdesnecessários. De acordo com especialistas, trabalhar autoconfiança e não se preocupar com a opinião dos outros é uma maneira eficaz de lidar com a opressão social.


“Isso gera problemas psicológicos, transtornos de inferioridade, principalmente por eu ser uma mulher gorda. Porque mulheres já são cobradas e julgadas esteticamente, e quando se é gorda é pior ainda, é tudo muito difícil”, desabafa Rebecca. E prossegue: “É algo que acaba com a gente por inteiro, e isso cansa tanto, pois foram muitos anos de bullying na escola, em casa, no trânsito, em qualquer lugar sempre tem alguma comparação. Poxa, eu estou tão cansada disso e desanimada que nem sei mais o que fazer”, finaliza.


Fonte: Portal Planalto e Mundo Advogados

Imagem: Arquivo pessoal e Pixabay
















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Contato: marciacasalli@gmail.com

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©2021 por Jornalista Márcia Casali.

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