Seja para tirar das ruas ou preencher um vazio, os animais de estimação têm um papel importante na vida de muitas pessoas. E essa relação de amor entre os bichos e os donos tem transformado vidas

O amor por um animal de estimação pode parecer estranho para muitos. Vale lembrar que pensar diferente não faz o outro melhor ou pior que ninguém. Cada pessoa é livre para vestir a camisa e defender uma causa, e isso é nobre. Existem relatos de pessoas que a vida tomou outros rumos após conviver com um bichinho. E esse amor pelos pets não é algo novo, ou uma “modinha”. Nascido em fevereiro de 1788, Arthur Schopenhauer, filósofo alemão que influenciou Sigmund Freud e Albert Einstein, afirmou que: “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem”.
Os animais são seres indefesos e dependentes, mas totalmente fiéis, que amam sem esperar nada em troca e sabem demonstrar gratidão. Não conhecem o rancor e a mágoa. Falam com os olhos. Sentem quando seus tutores não estão bem, e estão sempre alertas para protegê-los a qualquer sinal de perigo.

A pequena Mel tem aproximadamente dois anos, e ainda filhote conheceu o lado triste do ser humano, ao ser abandonada em uma estrada movimentada, entregue a própria sorte. Dados de 2014. de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há no Brasil cerca de 30 milhões de animais abandonados, um dado assustador, por tratar-se de números desatualizados. Até serem adotados esses animais vivem, e sobrevivem, aos maus tratos. Passam fome, frio, vivem amarrados, são espancados, o que em alguns casos ocasionam algum tipo de deficiência, como a cegueira.
Felizmente Mel deixou de fazer parte desta estatística, ao ser adotada pela biomédica, Lívia Lima, uma joseense (nascida em São José dos Campos/SP) que reside em Fortaleza/CE. Lívia conta que sempre desejou um bichinho de estimação, algo que seus pais não apoiavam por morarem em apartamento.
“Sempre quis um pet, e sempre disse que quando esse dia chegasse seria um Sem Raça Definida (SRD). Eu adoro, pois são inteligentes, espertos e acima de tudo são únicos. Não existe padrão e isso é o que mais me chama a atenção”, diz. Para ela existe um certo preconceito, pois as pessoas sempre elogiam a Mel por sua beleza e perfume agradável, mas ao questionarem a tutora sobre a raça, observa-se que as fisionomias mudam ao ouvirem que Mel é uma ‘vira lata’.

As redes sociais são ótimas ferramentas para os grupos de adoção, e foi por meio de um perfil que Lívia viu a foto da Mel, e imediatamente fez contato com Louchards, a pessoa que cuidou dela após o resgate. “Quando ele me contou a história, soube que seria ela. Por cuidar de vários cães, não houve condições de manter mais uma, ainda mais que ela precisava retirar cistos dos ovários. Ela é um amor de cadela. Minha Mel, que não poderia ter nome mais doce”, relata. Quanto aos pais, Lívia conta que Mel já conquistou a família.
Existe no país grupos de apoio a animais abandonados e em situação de risco. A grande maioria sobrevivem de doações, rifas e eventos. Mas, manter um abrigo não é fácil e muitos acabam fechando, tendo em vista que o número de resgatados são maiores que as adoções. A grande maioria trabalham no limite, ou mesmo acima da capacidade.

No Distrito Federal um projeto social e voluntário merece destaque, e tem a frente a autônoma, Ceiça Parente Dantas, uma teresinense, que prima pelo conforto e qualidade de vida dos acolhidos. Ela segue um rígido protocolo para oferecer a cada animal uma adoção bem sucedida. Para manter as atividades, a protetora conta com a colaboração e doação da população. Ceiça divulga seu trabalho e as ações para manter o abrigo, como rifas e bazares, em seu perfil nas redes sociais. Ela afirma que pessoas como a Lívia, tutora da Mel, são raras, pois optou por adotar uma SRD.
E todo esse cuidado com os animais abandonados vem acompanhado de um triste passado de abandono e dor. “Minha mãe sempre me rejeitou, e ao perder o meu pai, aos 14 anos, eu fui expulsa de casa, apenas com a roupa do corpo”, relembra. Após tentar contra a própria vida, oito vezes, Ceiça ganhou de uma sobrinha a Ruby Ester, uma poodle que veio para transformar a vida de sua tutora, que há quatro anos descobriu um câncer.

“O câncer veio não como um castigo, e sim como um aprendizado. Veio para me ensinar a valorizar a vida. Hoje tenho duzentos animais que dependem totalmente de mim. Não fui eu que os resgatei, mas foram eles que me resgataram”, relata a protetora, que nunca abandonou seus animais, nem mesmo no período da quimioterapia. Para ela, todo esforço vale a pena, algo que não seria possível sem a ajuda de voluntários e mantenedores. “Eles consomem cinquenta quilos de ração diariamente. E estão sob minha responsabilidade, então eu os mantenho abrigados, e busco condições de cuidar da saúde e bem estar, com foco na castração, vermifugação e vacinas”, finaliza.

Agradecimentos:
Ceiça Protetora: https://www.facebook.com/ceicaparente.dantas
Lívia Lima: @liv1994lima
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